Restrições da pandemia impactaram diretamente comercialização no mercado interno; e setor quer melhorias na relação com canal distribuidor da fruta
O mercado nacional de mamão tem surpreendido pelo seu alto índice de desenvolvimento nos últimos anos, e um dos fatores que pode ter levado a esse resultado positivo, é a preocupação do produtor em estar cada vez mais qualificado, buscando sempre inovar e potencializar seu negócio. Isso consequentemente faz com que a cadeia produtiva da fruta, tanto do mamão como de outras culturas, se expanda e atualize, isso se tratando desde o momento do preparo da lavoura para o plantio, das sementes que serão usadas, das pesquisas feitas, até na entrega do produto ao consumidor final, seja ele um fornecedor do mercado interno ou externo.
O CEO da empresa Nortefrut Importação e Exportação, Sávio Cazelli Torezani, acredita que isso se relaciona com a preocupação do homem do campo de expandir seus negócios e melhorar sua produtividade. “No campo nós percebemos que cada dia que passa o manejo está mais profissionalizado. Hoje boa parte das frutas que chegam aos supermercados passam pelos packing houses (casas de embalagem) permitindo que haja uma padronização e agregando muito na qualidade da entrega do produto final. As frutas podem ser colhidas no ponto certo de maturação (isso só é possível por conta da adoção da cadeia de frio ao longo do processo), depois são higienizadas e passam por um tratamento fúngico pós-colheita para que tenham mais tempo de vida nas prateleiras. Todo mundo ganha com isso”, pontuou.
Mas, ainda segundo Sávio, há muitos desafios no campo, como as doenças e o aumento de custos que combinados com a realidade atual do mercado, colocam a cultura do mamão em cheque. “Por conta de vários fatores, inclusive esses que falei, este ano acredito que o consumo do mamão diminuiu um pouco nos grandes centros. No mercado interno apesar de a venda no varejo tradicional ter aumento, os canais mais informais tiveram uma queda relativa e o mercado institucional e de Food Service uma queda acentuada. No mercado externo, a falta de voos, combinada com o aumento dos custos do frete aéreo, fez com que as quantidades exportadas diminuíssem”.
Vivemos um aumento absurdo de custos de produção no campo (adubos, defensivos, etc) bem como também dos insumos de embalagem e frete – Sávio Torezani
O ano de 2021, assim como foi o de 2020 para todo mundo, em especial os produtores, aqueles que dependiam da venda dos produtos para o mercado externo, sentiram um baque muito grande, especialmente por conta da pandemia do Corona Vírus. E esse cenário não segue sendo diferente, de acordo com o CEO da empresa, sediada em Pinheiros, norte do Espírito Santo. Sávio enfatiza que está sendo um ano de muitos desafios para quase todos os mercados de frutas. “De um lado temos o mercado que está confuso, muito sensível a preço e com menos canais de acesso ao consumidor final. De outro vivemos um aumento absurdo de custos de produção no campo (adubos, defensivos, etc) bem como também dos insumos de embalagem e frete. Os preços médios de comercialização, por sua vez, não subiram chegando até diminuir em muitos casos. Então essa é uma equação difícil e que coloca vários setores da fruticultura em uma situação muito difícil. O produtor de mamão, especialmente, já vem sendo fragilizado há alguns anos por conta dos preços ruins de mercado e do aumento do risco agrícola (doenças x custo de produção x mercado), então o cenário que vemos na prática é de muitos abandonando a cultura”, diz Torezani.
Para o Presidente da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Papaya (Brapex), Bruno Roza Pessotti, o aumento do consumo da fruta segue avançando e com isso gerando uma expectativa no produtor de que virão melhorias nos próximos meses. “Nós tivemos um aumento nas exportações de pelo menos 40%, então, se exportamos mais, fica menos fruta no mercado interno e consequentemente temos uma certa valorização do nosso produto mediante a essa destinação de boa parte da produção indo para exportação. Esperávamos um início de outubro um pouco melhor, mas com o volume de chuvas que tivemos na região Sudeste (Rio de Janeiro e São Paulo), isso não atingiu essa expectativa que criamos, então não tivemos um estouro de vendas”, destacou.
Mas um outro fator importante e que merece ser destacado, segundo Pessotti, é o impacto financeiro que toda população brasileira vem sofrendo, e isso acarreta diretamente no resultado das vendas para quem produz mamão. Mas, mesmo diante desse cenário de incertezas em alguns momentos, as expectativas futuras são boas na visão do presidente. “Nós sabemos que vamos ter uma certa valorização do nosso produto, tanto do mamão papaia como mais ainda do formosa, especialmente pela falta de sementes no mercado. Já podemos ressaltar que a importação de semente de formosa que vem da China teve uma redução de pelo menos 70%. Temos ciência que entra por ano no Brasil em torno de 1.200 a 1.300 latas, e esse ano o Brasil importou apenas 240 latas. Estamos aguardando agora o fechamento desse ano para ter mais certeza dos números, mas com certeza teremos uma redução de frutas, o formosa já é notável, o havaí vai ter uma redução agora e tem ainda o aquecimento do crescimento das exportações no mês de novembro e dezembro”, pontuou Pessotti.
Importação de semente de formosa que vem da China teve uma redução de pelo menos 70% – Bruno Pessotti, Presidente da Brapex
Um fator preocupante para os produtores, do ponto de vista do presidente, é o aumento do valor dos fertilizantes, que tem crescido de forma assustadora nos últimos 15 anos, dando um salto de porcentagem maior de venda nos últimos dois anos. Para se ter uma ideia, de acordo com Pessotti, uma tonelada de uréia que há um ano se pagava cerca de R$ 1.600,00, na segunda semana de outubro/21, esse valor chegou a R$ 5.000,00 a tonelada. “Temos fertilizantes subindo 250% de valor, e o mamão é uma cultura que todos os meses temos que adubar em torno mínimo de 100 a 150gr por planta. Ele não é uma cultura como o café, por exemplo, que se aduba de 3 a 4x ao ano. Como o mamão é uma planta que todos os dias você está colhendo e ele está florando em cima, a adubação precisa ser constante, então por ano, usamos uma média de 1 a 1,5kg desse produto por planta, um valor muito alto se comparado com qualquer outra cultura”, compara Bruno.
Segundo notícias divulgadas recentes, alguns fatores podem ter acarretado na alta do preço desses insumos, como a crise elétrica na China, a alta do preço do gás e os atrasos nas entregas de fertilizantes potássicos. Ainda vale ressaltar que se tratando da irrigação, tão importante para o sucesso do negócio do produtor, houve demora nas entregas dos produtos. “Muitos são os fatores que assustam o produtor de mamão, como o aumento de insumos já citado, que foi muito mais expressivo do que os fertilizantes, os preços exorbitantes dos defensivos que usamos e tem ainda as sementes do formosa que estamos sofrendo bastante sem conseguir”, ponderou Bruno.
Para o ano de 2022, o presidente disse que a Brapex está montando seu novo Planejamento Estratégico e terá diversas ações a serem executadas. Já está até inclusive avaliando a parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para melhor efetividade das ações que serão realizadas nos diversos níveis do setor, uma vez que a entidade tem um conhecimento e um suporte muito grande nessa parte.
O representante da BRAPEX no Estado da Bahia, Ulisses Brambini, afirma que no que tange a parte comercial, o ano de 2021 está sendo um grande reflexo de 2020 para os produtores de mamão por conta da pandemia, já que as escolas pararam o consumo da fruta, assim como as redes hoteleiras, houve uma redução muito grande de venda do produto para o comércio exterior devido às barreiras criadas em alguns países por questão de segurança por conta da pandemia, os aviões diminuíram os voos, principalmente em 2020, início de 2021, então houve esse reflexo que acabou impactando no cenário do mercado nacional. Além de tudo, há ainda a questão de lidar com os desafios do mercado distribuidor. “Nosso maior gargalo hoje é quando batemos de frente com o mercado distribuidor, tanto para quem produz, como para quem compra. E se esse mercado não mudar a forma de comercializar essa fruta, a compra dela, assim como a venda para o consumidor final, trabalhando com um preço justo para todos, vai ficar cada vez mais difícil trabalhar e automaticamente o cidadão comprar a fruta. Quem vai ao supermercado hoje está sendo extorquido de forma exorbitante e sem necessidade. Nós vendemos 1kg de mamão em São Paulo por R$ 3,00 e esse mesmo mamão está sendo repassado para o consumidor final, para a dona de casa, por R$ 6,99, R$ 8,99, isso não tem cabimento. Se tivéssemos um preço médio de mamão a R$ 1,00, tanto do formosa, quanto do havaí, esse seria um excelente valor pro produtor”, avalia Brambini.
Ainda segundo Ulisses, em 2018 o produtor chegou a vender seu produto pelo preço médio de R$ 0,45. “Hoje essa média do preço de roça para o mercado interno fica em torno de R$ 0,51. Já para o mercado externo, a média do preço do mamão formosa sai a R$ 1,29 e a média geral de venda entre os mercados em R$ 0,77 centavos. Vale ressaltar que essa média é da venda dos produtos já beneficiados, que são aqueles que já passaram por uma casa de embalagem, foram lavados, embalados, etiquetados, colocados na caixa ficando pronto num padrão de alta qualidade para ser levado para o comércio”, pontuou.
Esse valor médio passado acima é o de venda da fruta, e não o de custo, segundo Brambini. “Nós que lidamos diretamente com esse mercado sabemos que a fruta custa muito mais do que isso por vários fatores como os cortes das lavouras inteiras infestadas por pragas, fungos e doenças, as frutas que precisam ser descartadas diariamente pois não podem ser reaproveitadas, e muitos outros motivos. Então, o custo de produção da fruta para o produtor é bem maior do que isso. Falar quanto custo para cada produtor é um desafio pois cada um passa por uma experiência diferente com sua lavoura”, diz.
Fonte: Redação Campo Vivo
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